E FOI-SE

O Vento passou.
A chuva passou.
Ficou o céu sereno sem nuvens,
o mormaço escaldante.
E a vida dilacerava os dias aos dias
e o tempo ao tempo
e o medo ao medo.

Restou desesperança,
insucesso, não-êxito, desgraça,
destempero, ódio seco, a estagnação.

Onde foi parar os momentos, memórias,
que escapando ladeira abaixo, desmoronando, foi-se?
Quais folhas, arbustos, pudera segurar-se?
Quem, a si, salvar-se?

Passou!
O vento e a chuva e o céu e o calor
e os dias e o tempo e o medo e os momentos
e as memórias e a ladeira e o morro e as folhas
e os arbustos e quem mais pudera.

E foi-se embora!