Fim de ano

As pessoas vão casando,
O tempo em vão passando.
Meus filhos já vão nascer.

E, enquanto isso,
Os parafusos se apertam,
O mundo espera pra receber

O fim de um ano,
O fim do mundo.
E eu finjo que estou feliz
De mais um dia,
Que vale a lida,
De um ano que está pra nascer.

As ideias vão fluindo,
Os rios que em vão
Ladeiras, confusão.

E mesmo nisso,
Quando tudo aperta,
A gente espera receber

O fim daquilo,
O fim de tudo.
E eu finjo que ainda não deu
E mais um dia
De esperança
Pra tudo desaparecer.

E quando chegar ao fim
Da minha vida
Tudo estará, enfim,
Do jeito que eu sempre quis.

“O amor é dádiva!”

O amor é dádiva! Ninguém pode amar alguém por mero merecimento ou em busca de benefício próprio. Apenas se dar em amor quando por uma opção em amar simplesmente como opção, como dádiva, como destino! “Como se se descobrisse destinado à amar e escolhesse por amar e aí se desse em amor.”

Jamais vou conseguir por merecimento o amor do outro. Por mais que eu me esforce e tudo que eu faça seja digno desse amor. Todos os meus esforços apontam para um possibilidade de amar a si e à necessidade que se tem do amor do outro. E isso é egoísmo. Só serei amado, por amor, quando o outro descobre-se destinado a amar e decide, escolhe que eu seja o objeto do seu amor, me escolhe como receptor, como possível amado, e se propõe meu amante. Ou seja, só serei amado por uma opção do meu amante. Se o meu amante decidir me amar, então serei amado.

Quando o assunto é romance, algumas perspectivas se unem. Ser amado é aceitar (ou decidir, optar) pela ação do amante, ao mesmo tempo que permitir a si mesmo descobrir-se amante e destinar o seu amor àquele que lhe destinou seu amor primeiro. É claro que o sentimento e as sensações que uma paixão desencadeia quando nos encontramos apaixonados tem suas finalidades; Não se vive sempre apaixonado, e como a paixão desencadeia sensações, pode muitas das vezes apresentar algumas confusas e que nos cause estranhamento, tais como frustrações, medos, anseios, ciúmes e etc.

Porém, geralmente a paixão atenua os riscos da opção e nos torna menos exigente ao decidir. Às vezes por razões reais, às vezes por meras ilusões. Algumas das vezes, nos torna mais afoitos em decidir, como se lutássemos contra o tempo. Noutras, ponderamos suficientemente. Mas amar, mesmo assim motivado e desencadeado pela paixão, nunca deixará de ser uma opção, uma escolha. Ainda que uma escolha cega, pois se espera merecedor mediante ações loucas de “amor”, buscando influenciar, e em alguns casos conseguindo, a decisão do possível amante. O amor somente se dá a partir da decisão do amante. A partir de um decisão, logo, por uma escolha.

Apesar dos esforços, o amor jamais pode ser tomado à força, nem mesmo comprado, visto que é dádiva. Também não se cobra, apenas se recebe. E nisso que pecamos, queremos obrigar nosso amado a receber nosso amor, por que ainda não aprendemos a amá-lo, pois no amor, o amante só se dá. E não perde o amor dado quando esse não é recebido. Erramos também se quando amado, queremos retribuir amor apenas por ser amado, e esquecemos que para me tornar um amante, não basta ter sido amado primeiro, mas sim exige-se de mim que eu escolha amar e doar-me ao meu ente amado. Não apenas como um reflexo do receber o amor de alguém, mas sim como uma escolha autêntica por dedicar-se em amor por alguém, ainda que não receba nada por isso.

Em suma, o amor é DÁDIVA, apenas uma dádiva. Devo aprender a me dar em amor e a receber o amor, sem nada buscar em troca, como unica razão a opção de amar.

ASSALTO

Um assalto! Sobressaltado sempre diante dessa curta e grossa frase, mas que se apresenta repleta de muitas questões; e não, não estou falando de assalto, roubo, furto, meliante, mão armada, nada disso, mas sim de qualquer acometimento repentino, que quando menos esperamos, ou quando assustamos e nos damos conta, já fomos atacados, alcançados, achincalhados e expostos a nossa inabilidade de lidarmos em improviso com o inesperado.

É uma paixão que nos acomete, um perda irreparável que nos alcança, é uma mudança mínima no tempo, no humor, nas horas, no olhar, no jeito de falar, nos gestos bruscos e perdidos, que nos colocam repentinamente, sobressaltadamente diante da pergunta inevitável nessa ocorrências: O que houve? O que aconteceu, como, por que, quando, hãmm!? ou como diriam alguns piadistas, “alguém anotou a placa?”

É engraçado, pois, metade da minha pequena vida foi me preparando para alguns momentos importantes, ou que eu julgava que seriam. Hoje aos 30 anos, muitas coisas importantes aconteceram, muitas delas num assalto. Muitas que jamais pensei que aconteceriam, de repente me vi lá, diante da situação e precisando improvisar sem a menor habilidade e conhecimento para “colocar as notas necessárias que aquela ocasião exigia de mim”. Isto mesmo, como um solista numa orquestra, que gastou meses estudando uma da principais peças de Guarnieri e que quando convidado como participação especial numa apresentação que lhe ocorre sem tempo suficiente para ensaio, aceita por acreditar suficientemente pronto para tal motivo, mas descobre às primeiras notas desse que se preparara para uma peça diferente.

Que embaraço nos causa as situações, os assaltos. Quão inaptos, juvenis e imaturos nos vemos, tão preocupados com coisas que simplesmente nos acometerão num assalto. Ainda mais que nada de antemão conseguirá nos impelir, no momento do assalto, para a ação mais correta na direção da melhor ou mais coerente, mais acertada decisão. E não tem como fugir da frustração que a próxima questão que logo, logo se apresenta adiante desses momentos, a tal: Será que fiz a coisa certa?

Eu não tenho muitas respostas. Não mais que outras questões como, o que é o ‘certo’? Por que nos atemos mais na possibilidade do errado e/ou do acertado? Nossos olhos fixam mais na reação ao assalto (será que o que fiz nesse momento assaltado era realmente o que deveria ser feito?) do que no posicionamento pós assalto (agora que está feito, está decidido, posso lidar com isso, como lidar com o que está feito, como ajustar o feito). Nossas energias se esgotam mais no acertamento do que no ajeitamento, no ajustamento, nas responsabilidades.

Concluo que haja, muitas das vezes da nossa parte, uma ênfase maior no ‘fato’ do que nas ‘implicações do fato’. Acredito que qualquer ocorrido, que nos exija uma atitude impetuosa, o que deveria mais nos preocupar são as responsabilidades advindas que o próprio momento decidido, no qual permanecemos estagnados por não saber ou não compreender acerca do como decidir. Também acredito que nesses momentos, o que vai melhor corresponder às nossas decisões é a habilidade de que, seja como for, assumiremos todas as responsabilidades e comprometimentos que o momento, que o assalto nos proporcionar. Agora, agir assim são outros quinhentos. Difícil e improvável. Estamos sempre nos justificando com a nossa inaptidão para certas decisões, ou com nossa ignorância (não sabia que era assim). Porém, sinto lhe informar, mas se formos sempre reticentes nesses momentos, perderemos o melhor da vida, o poder do agir e decidir, o poder de VIVER!