Vi, como um bom bisbilhoteiro da vida alheia, uma frase, um comentário sobre quão egocêntrico os jovens hoje se apresentam. Por infelicidade, ou por descuido, também comentou-se, que nós – aqueles que não somos egocêntricos – sofremos ao vê-los tão dispersos, olhando apenas para seus próprios umbigos.
Pensando sobre esse egocentrismo do outro, a única coisa que vi, foi a mim mesmo; tão egocentrico que de tanto olhar para o meu umbigo, acreditei que ele fosse o outro. Assim vi a mim em todos aqueles que para mim não era apenas eu mesmo.
Pensando nessa salada toda, descobri algumas coisas sobre mim: que seria bom se todas as minhas ações para o próximo fosse sempre em prol do outro; ás vezes, o que eu faço para o próximo é mais por querer ser efetivo com aquilo que creio que sou, que por está diante do outro, me dispondo e me abrindo para o outro.
Vivemos uma busca por entendermos de fato quem somos. Mesmo que não seja algo “na cara”, ou uma pergunta que de fato vem à nossa mente de forma tão óbvia, quem eu sou?, mas de diversas formas estamos tentando acreditar que somos algo, ou tentando provar, ou sermos aceitos pelo que somos. “Se somos, somos, isso é o que importa”, diria o cantador (Seu Lega Gaspar).
Mas se ser é o que importa, não importa quando somos, por que se ser (quando sou) é motivo de orgulho para mim diante dos outros, como a criança do “eu tenho, você não tem”, talvez não sejamos de fato. Ser e ter que provar o que se é o tempo todo, talvez seja por não-ser. Ser só teria sentido enquanto estou sendo. Talvez ter que ser, é deixa de ser para que o outro seja. A linguagem atrapalha muito aqui. Está sendo quando não há preocupação em ter que ser, mas apenas em que o outro seja.
O que quero dizer de fato é que enquanto não me abro para o outro, tanto à Deus quanto ao próximo, não sou capaz de ser. E quando falo abrir-se para o outro, quero que a ênfase esteja no outro. Mais uma vez esbarro-me na linguagem, mas o outro enquanto outro mesmo, não outro mesmo de mim, mas o outro que não sou eu, que é diferente, que é estranho. É permitir que alguém mais seja (o outro seja), que não eu mesmo. Não ser, ou não ter que ser, me ajuda a ver o outro, como ele é, e não como eu acho que tem que ser.
O ser só pode ser enquanto se é. Se tiver que se questionar sobre o que se é, talvez não seja. Como diria Deus a Moisés, Sou o que sou, e eu complemento, quando sou, e como sou o tempo(?) todo, pode me chamar apenas de Eu sou! Deus é, então Ele não se questiona sobre o Ser dele. Mas o ser que somos nós, o tempo todo pergunta pelo ser, pelo seu sentido, pela sua razão de ser. Talvez por que o seu sentido esteja naquele que é de fato e verdade. Aquele que é tudo em todos!
Quando alienamo-nos de Deus, ficamos tateando buscando ser alguma coisa, anulamos o outro, por que precisamos ser, ansiamos por ser. Ao alienarmo-nos de Deus, no alienamo-nos do outro também, por que eles apenas vão nos mostra o que não somos.
Agora Deus é tão bom que mesmo tateando nós podemos o encontrar, no mundo, na vida, na natureza, no outro. Mas temos tanto medo da responsabilidade de ser, que não sendo vemos isso (o não-ser) apenas naquilo que chamamos de outro. Acho que pode parecer loucura, mas ansiamos por novamente poder dizer como Jesus dizia, quem vê a mim, vê o Pai. Por que isso, estando no Pai, naquele que É, o Eu sou, nEle eu vou sendo e vou deixando o outro ser.
Um coisa que percebo em Jesus, é o quanto ele permitia que o outro fosse. Aparentemente, ele não determina quem o outro é apartir dele mesmo, de suas experiências e do seu tato; antes, permite que o outro seja. Talvez, por isso mesmo que ao aproximar de um cego, um coxo, um leproso, ele perguntava: “o que quer que eu faça, o que você quer de mim?” Por que apesar de ser mais um doente, era um outro doente. Apesar de que todos os leprosos, poderiam querer a cura, aquele próximo leproso, era um outro leproso, diferente do anterior, diferente do próximo, e diferente principalmente de mim, de Jesus, diferente de cada um de nós.
Acredito que olhar como Jesus, ou com os olhos dEle, seria olhar para o outro, como outro. Não como eu gostaria que o outro fosse, mas como ele é. É aceitar o outro, é querer o outro por perto, por que é outro. É não aceitar mais que seja o mesmo de mim e sempre considerar que o outro é outro diferente mesmo, apesar de muitas coisas iguais!
É aceitar que o outro tem limites, que não são os mesmos para todos, mas são diferentes para cada um. Sendo, um outro um próximo, o desafio está dado, cada próximo meu é um outro diferente. E preciso ver, lidar e relacionar com a realidade de que cada próximo é um outro e é um diferente e é um desafio e é uma aventura e é uma descoberta e é uma vida.
Somente pela graça de Deus, que me permitir estar nele, para ser e deixar ser. Como disse meu amigo Stutz, bastasse reconhecer que somos (ou que não somos) e nos entregar nas mãos do Único que pode nos transformar. Transformação essa que acontece quando eu me abro pra Ele, me abrindo para o outro.