Monólogo dos dias

O Monólogo dos dias apresenta a Paixão de Cristo pela perspectiva do sentimento que, se fosse possível personalizar cada um dos dias poderíamos ouvi-los relatando. Então está aí, a quinta, a sexta, o sábado e o domingo, exprimindo impressões sobre uma perene semana curiosa que tem mudado a realidade.

O DOMINGO

Ainda era madrugada e algumas mulheres já se movimentavam. Queriam dar continuidade no que a tradição não permitiu fazer no dia anterior. A tristeza ainda preenchia o coração e a dúvida de como seria o caminho agora sem o mestre era abundante no pensamento. Foi um dia que começava denso, obscuro. Um ar de tristeza conduzia os passos daqueles que já se colocaram de pé ainda muito cedo, enquanto uma ponta de esperança traçava aos poucos um novo destino no peito.

Muitas notícias corriam diante das minhas vistas. Talvez seus seguidores haveriam roubado o seu corpo para fazer cumprir sua promessa de ressurreição. Será que era essa a verdade que faltava para apagar a pequena chama que insistia em acender em muitos corações? Mas talvez, a verdade é que ele tenha ressurgido. E se tiver acontecido de fato? Quanta esperança, quanta alegria, quanta euforia! Quanto medo. O relato da ressurreição, a pedra removida do túmulo, a visão de um ser celestial, tudo isso visto e dito por mulheres. Será que merecem nossa confiança?

A noticia corria longe, todos da circunvizinhança estavam sabendo sobre a possível ressurreição. Muitos estavam desmentindo e criando estórias para explicar o corpo sumido, o túmulo vazio. Alguns dos seguidores estavam se reunindo para averiguar os fatos. Havia muito medo de que tudo isso fosse alguma forma de incriminar aqueles que estavam mais próximos de Jesus, a tensão e o risco iminente de perseguição e repressão por lutar pala verdade era o sentimento de muitos deles. Mesmo assim, a cada segundo, a cada nova notícia, a cada verdade confirmada, um ímpeto profundo na alma para continuar, para lutar e confiar naquilo tudo que se tinha ouvido dele, ficava mais forte, como se sua presença e o quente arfar de seus últimos esforços na cruz, estivesse com tal vivacidade ainda em seus ouvidos.

Muitos já relatavam experiências, daquilo que pensavam ser o mestre presente, desde em pequenas reuniões, ou até mesmo visões que aconteciam quando sozinhos no caminho ou em casa, de vultos e vozes ouvidas. Alguns não percebiam e nem acreditavam que poderia ser ele. Outros só se deram conta quando ouviam relatos e descobria partilhar daquele mesmo ardor na alma e reavivar das verdades por ele ensinadas.

Porém o que todos realmente sabiam em suas almas, que apesar da loucura, da insanidade de se crer naquilo que somente era conhecido em relatos mitológicos, sobre heróis e deuses, diante dos quais Jesus passava ao largo, é que havia um sentimento de serenidade, que inspirava esperança e fé. Assim, em meio às dúvidas e possibilidades diante de seus olhos, todos os que criam se reuniam, com o fim de fortalecer uns aos outros naquele longo e árduo caminho, cheio de lacunas, de faltas, cheio de promessas e de perene vida. Fui assim, o domingo da ressurreição, o dia da serenidade.