É O OUTRO!

Vi, como um bom bisbilhoteiro da vida alheia, uma frase, um comentário sobre quão egocêntrico os jovens hoje se apresentam. Por infelicidade, ou por descuido, também comentou-se, que nós – aqueles que não somos egocêntricos – sofremos ao vê-los tão dispersos, olhando apenas para seus próprios umbigos.


Pensando sobre esse egocentrismo do outro, a única coisa que vi, foi a mim mesmo; tão egocentrico que de tanto olhar para o meu umbigo, acreditei que ele fosse o outro. Assim vi a mim em todos aqueles que para mim não era apenas eu mesmo.


Pensando nessa salada toda, descobri algumas coisas sobre mim: que seria bom se todas as minhas ações para o próximo fosse sempre em prol do outro; ás vezes, o que eu faço para o próximo é mais por querer ser efetivo com aquilo que creio que sou, que por está diante do outro, me dispondo e me abrindo para o outro.


Vivemos uma busca por entendermos de fato quem somos. Mesmo que não seja algo “na cara”, ou uma pergunta que de fato vem à nossa mente de forma tão óbvia, quem eu sou?, mas de diversas formas estamos tentando acreditar que somos algo, ou tentando provar, ou sermos aceitos pelo que somos. “Se somos, somos, isso é o que importa”, diria o cantador (Seu Lega Gaspar).


Mas se ser é o que importa, não importa quando somos, por que se ser (quando sou) é motivo de orgulho para mim diante dos outros, como a criança do “eu tenho, você não tem”, talvez não sejamos de fato. Ser e ter que provar o que se é o tempo todo, talvez seja por não-ser. Ser só teria sentido enquanto estou sendo. Talvez ter que ser, é deixa de ser para que o outro seja. A linguagem atrapalha muito aqui. Está sendo quando não há preocupação em ter que ser, mas apenas em que o outro seja.


O que quero dizer de fato é que enquanto não me abro para o outro, tanto à Deus quanto ao próximo, não sou capaz de ser. E quando falo abrir-se para o outro, quero que a ênfase esteja no outro. Mais uma vez esbarro-me na linguagem, mas o outro enquanto outro mesmo, não outro mesmo de mim, mas o outro que não sou eu, que é diferente, que é estranho. É permitir que alguém mais seja (o outro seja), que não eu mesmo. Não ser, ou não ter que ser, me ajuda a ver o outro, como ele é, e não como eu acho que tem que ser.


O ser só pode ser enquanto se é. Se tiver que se questionar sobre o que se é, talvez não seja. Como diria Deus a Moisés, Sou o que sou, e eu complemento, quando sou, e como sou o tempo(?) todo, pode me chamar apenas de Eu sou! Deus é, então Ele não se questiona sobre o Ser dele. Mas o ser que somos nós, o tempo todo pergunta pelo ser, pelo seu sentido, pela sua razão de ser. Talvez por que o seu sentido esteja naquele que é de fato e verdade. Aquele que é tudo em todos!


Quando alienamo-nos de Deus, ficamos tateando buscando ser alguma coisa, anulamos o outro, por que precisamos ser, ansiamos por ser. Ao alienarmo-nos de Deus, no alienamo-nos do outro também, por que eles apenas vão nos mostra o que não somos.


Agora Deus é tão bom que mesmo tateando nós podemos o encontrar, no mundo, na vida, na natureza, no outro. Mas temos tanto medo da responsabilidade de ser, que não sendo vemos isso (o não-ser) apenas naquilo que chamamos de outro. Acho que pode parecer loucura, mas ansiamos por novamente poder dizer como Jesus dizia, quem vê a mim, vê o Pai. Por que isso, estando no Pai, naquele que É, o Eu sou, nEle eu vou sendo e vou deixando o outro ser.


Um coisa que percebo em Jesus, é o quanto ele permitia que o outro fosse. Aparentemente, ele não determina quem o outro é apartir dele mesmo, de suas experiências e do seu tato; antes, permite que o outro seja. Talvez, por isso mesmo que ao aproximar de um cego, um coxo, um leproso, ele perguntava: “o que quer que eu faça, o que você quer de mim?” Por que apesar de ser mais um doente, era um outro doente. Apesar de que todos os leprosos, poderiam querer a cura, aquele próximo leproso, era um outro leproso, diferente do anterior, diferente do próximo, e diferente principalmente de mim, de Jesus, diferente de cada um de nós.


Acredito que olhar como Jesus, ou com os olhos dEle, seria olhar para o outro, como outro. Não como eu gostaria que o outro fosse, mas como ele é. É aceitar o outro, é querer o outro por perto, por que é outro. É não aceitar mais que seja o mesmo de mim e sempre considerar que o outro é outro diferente mesmo, apesar de muitas coisas iguais!


É aceitar que o outro tem limites, que não são os mesmos para todos, mas são diferentes para cada um. Sendo, um outro um próximo, o desafio está dado, cada próximo meu é um outro diferente. E preciso ver, lidar e relacionar com a realidade de que cada próximo é um outro e é um diferente e é um desafio e é uma aventura e é uma descoberta e é uma vida.


Somente pela graça de Deus, que me permitir estar nele, para ser e deixar ser. Como disse meu amigo Stutz, bastasse reconhecer que somos (ou que não somos) e nos entregar nas mãos do Único que pode nos transformar. Transformação essa que acontece quando eu me abro pra Ele, me abrindo para o outro.

O amor, (ou sobre quando me perguntaram o que é amar)

O amor é
um grito num penhasco
do qual jamais se ouvirá o eco.

É o prazer do desprendimento
pelo próprio desprendimento.
O dar-se pelo próprio fato de dar-se
como unica forma de ser
exatamente aquilo que se deveria ser.

O amor é desejar simplesmente ser
a resposta na dúvida,
a riqueza na pobreza,
a fartura na escassez,
a presença na ausência,
a alegria na tristeza,
o carinho na carência,
a segurança na escuridão.

Ser o que for preciso
exatamente quando se é necessário,
somente por querer o bem do amado.

O amor é o grito nas montanhas
que jamais será ouvido.

… entre o êxtase e a inércia …

Ali, onde, aparentemente nada acontece, enquanto tudo se define. Ali, quando simplesmente SOU EU!

Estou aqui procurando as palavras para postar. Não as tenho. Procurei algumas idéias para desenvolver e escrever algo relevante, mesmo que somente para mim, e não as encontrei. Não há nada tão novo sobos céus, o que me dá esperança de dias melhores. Eu até recebi algumas opiniões sobre o que escrever – picote, deficit criativo, embargos diplomáticos – mas nada conseguiu me despertar a criatividade para que escrevesse. Mas diante dessas poucas frases mal traçadas me veio duas amedrontadoras palavras: INÉRCIA e ÊXTASE;

Quiçá por Inércia, eu improdutivo e incapacitado de escrever e até mesmo perceber o NOVO e dispô-lo em palavras, sei lá, transformar minhas vivências em sonoras poesias e em movimentos. Sofrendo a impossibilidade de movimentar-me no meu universo, sem defini-lo, sem gesticulá-lo, simplesmente sem tempo, sem vontade, sem necessidade. Apenas sofrendo, passando por, admitindo que tudo aconteça sem muitas possibilidades da minha interferência poética. (risos) Engraçado, nunca imaginei que minhas palavras poderiam em algum momento faltar na vida. Nunca imaginei que interferira tanto na realidade minha e de outros apenas com as palavras, apenas teclas, circuítos e tipografias. Mas agora passivamente, vejo tudo quadrado, tudo passando.

Mas também pode ser que por êxtase, eu estupefacto e arrebatado, incapacitado de escrever simplesmente por perceber o NOVO incontinente, procedente dos gestos e das palavras que indecifráveis, transformam minha vivência de uma vaga indolência por sonoras poéticas que vagam na minha mente estanque. Tantas faces novas nos últimos dias, tantas palavras novas, sentimentos novos, maturidade nova, escolhas novas, desejos novos, futuro novo em folha e bem diferente daquilo tudo que eu programava a anos, meses, semanas, dias atrás. Diante de cada novo tempo, um tempo novo! Onde nada ainda aconteceu! Somente respirei fundo. E nada ainda aconteceu mesmo. Tempo novo, hein! Pensei.

Acho que me descobri nesses dois momentos. Êxtase e Inércia; Ativo e passivo; Louco e desvairado! Estou numa vírgula da minha vida. Imaginem só, estou a menos de um mês para completar 30 anos de existência e ainda não entendi nada da vida. Não sou casado, não tenho filhos, não tenho feitos ousados, ainda nem consegui lançar meu CD, meu livro, meu sei lá o quê, mas hoje vivo pleno, entre o extâse e a inércia. Ali, onde, aparentemente nada acontece, enquanto tudo se define. Ali, quando simplesmente SOU EU!