:ânsia


São montes de palavras que eu insisto em largar na tela do monitor. Quase todas elas sem sentido. Eu pensava que estava falando de amor ou de um sentimento nobre que um dia me traria à dona da minha, minha cabeça lançada numa bandeja somente para os campeões. Aquele que vencer e decifrar essa minha mania de falar em signos. Símbolos, metáforas, línguas e sons, palavras, paráfrases, paradas. Loucura. Tem um homem lendo bem por cima do meu ombro tudo que eu digiro e regurgito. Ele parece que está dentro da minha cabeça e às vezes sopra palavras.

Eu fico sem entender, como esse cara entende bem do meus sentimentos. Ai que necessidade de gritar bem alto o seu nome. Que vontade de te tomar pelas mãos e esfregar meu corpo no seu. E tomar parte do seu cheiro no meu. E tomar parte do seu gosto no meu. E ser só seu, até enquanto puder. Minha cabeça anda mergulhada em sonhos voluptuosos, sem o meu consentimento, sem a minha decisão. E esse homem que me olha pela janela e sempre aparece nos meus sonhos. Ele é quem coloca as mãos sob sua blusa enquanto você sorri. E eu grito com você: Por quê? Por quê? Por quê? E acordo úmido, sujo. Louco, estúpido e ignorante. Não entendi nada, e culpei você pelas minhas palavras sem nexo.

Voltei outro dia. Estava tudo escuro e eu não conseguia me perder, apesar de não saber por onde eu pisava, tinha a certeza que usava o mesmo caminho de antes. Eu estava com medo. E inseguro. Fico louco de ouvir aquele moço sentado bem embaixo da minha mesa e que vive o tempo todo repetindo aquelas mesmas palavras que eu falei e queria apagar da minha memória. Eternamente!

Que desgraça, elas ecoam como se eu estivesse dentro de uma caverna do passado, apesar de que eu estou certo de que aqui não é uma, que não passa da sala de espera de um dentista e agora eu preciso me concentrar no barulho incisivo do maquinário que me aguarda sala adentro. Preciso arrancar fora o siso que me atrapalha o amor. Meu juízo que me atrapalha, me julgo e jogo tudo, tudo contra mim. Apenas contra mim!

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