movimento III ou … esta vontade que não passa


Para todos os lados
Esparramada
Mexe-se
Se move

Para dentro e para fora
Para sempre
E avante
E me envolve

Expande-se
Perde-se
Ganha-se
Ocupa-se

Espaceja
Boceja
Deseja
Mais e mais
E mais e mais
Mais, mais, mais

Centrífuga
E sempre para os lados
Todos os lados
Me sufocando

– Assim, já não há mais espaços!

Em mim já não há
Mas nada, adianta, adianta…

BUSCAS IV


Malditas palavras
Mal fadadas
Destruidoras
Equivocas
Insalubres
Mesquinhas

Mal ditas rubras
Mal faladas
Desgostosas
Esquivas
Imaturas
Mentirosas

Impudicas
Imemoráveis
Tórpidas
Pela embriaguez
Intragáveis
Desérticas
Calcificadas

Entaladas
Palavras
Mal faladas
Orbitantes
Perdidas
Mal fadadas
Impraticávelmente
Mal ditadas

..::movimento::..

Tudo que é pra dentro,
é tal qual pra fora expressado.
E quando me expresso,
revelo o que há dentro para o exterior.
Assim provoco um novo conhecimento
do que dentro está
pelo simples fato de poder
torná-lo possível fora, no exterior.

Quando exposto, o que há dentro
passa a compartilhar do que é de fora.
Quando percebido fora,
ele volta para dentro de mim
com marcas, resquícios,
manchas do experienciado fora.

Então o vivenciado é experimentado
sempre duas vezes,
no interno e no externo,
no movimento de dentro pra fora
e de fora pra dentro.

..::pra fora

Todas as formas, desenhos,
detalhes, objetos, figuras,
semelhanças e imagens
que eu vejo,
são meras possibilidades
que estão fora de mim.

Me trazem lembranças
e movem meu interno.
O meu interior se apercebe
pelos modos exteriores
que se apresentam como extensores
daquilo que há dentro
e sempre há possibilidades
naquilo que é de fora.
E eu, sempre crio oportunidades
para ir pra fora de mim.

Seja nos sons ou nas palavras,
nos gestos, ou objetos criados,
iconizando os meus desejos.
Sempre é pra fora,
quando me expresso,
tudo que processado no mais interno
do profundo do eu.

MÓBILE

Não sou entendido
Sou agredido e confrontado
Tempo todo
Tudo me incomoda
Mas quase nunca me mobiliza
Ou me tira do conforto

Palavras, meras palavras
Diante do complexo universo
Do conhecimento humano
Da percepção humana
Palavras, são só reflexos

Repetições das imagens
Das concepções captadas
Das impressões que nos permitimos
Daquilo que nos rodeia
Daquilo que nos aflige, nos afeta

Mas quase nunca isso me mobiliza para ser transformado
Quase sempre concluo que os outros devem ser mudados
E assim luto para adequar o mundo e a realidade a mim mesmo
Como se eu, o todo, e o mundo, a parte.

Mediocridade minha
Humanidade implica no saber o outro, nos limites
Por isso homem e mulher, iguais em importância
Mas diferentes em funções e funcionamento
Coniventes e condescendentes

Humanidade implica em saber que o outro não sou eu
E se, eu já sou um universo em colapso
O sou em rota de colisão
E me transformo sempre em confrontação
Sempre em conflito comigo mesmo
Com outro e com aquilo que no outro vejo de mim mesmo.

Por isso não sou entendido
Agressivo e confrontador
Todo tempo
Incomodado
Móbile atordoado
Totalmente desconfortável.

:ânsia

São montes de palavras que eu insisto em largar na tela do monitor. Quase todas elas sem sentido. Eu pensava que estava falando de amor ou de um sentimento nobre que um dia me traria à dona da minha, minha cabeça lançada numa bandeja somente para os campeões. Aquele que vencer e decifrar essa minha mania de falar em signos. Símbolos, metáforas, línguas e sons, palavras, paráfrases, paradas. Loucura. Tem um homem lendo bem por cima do meu ombro tudo que eu digiro e regurgito. Ele parece que está dentro da minha cabeça e às vezes sopra palavras.

Eu fico sem entender, como esse cara entende bem do meus sentimentos. Ai que necessidade de gritar bem alto o seu nome. Que vontade de te tomar pelas mãos e esfregar meu corpo no seu. E tomar parte do seu cheiro no meu. E tomar parte do seu gosto no meu. E ser só seu, até enquanto puder. Minha cabeça anda mergulhada em sonhos voluptuosos, sem o meu consentimento, sem a minha decisão. E esse homem que me olha pela janela e sempre aparece nos meus sonhos. Ele é quem coloca as mãos sob sua blusa enquanto você sorri. E eu grito com você: Por quê? Por quê? Por quê? E acordo úmido, sujo. Louco, estúpido e ignorante. Não entendi nada, e culpei você pelas minhas palavras sem nexo.

Voltei outro dia. Estava tudo escuro e eu não conseguia me perder, apesar de não saber por onde eu pisava, tinha a certeza que usava o mesmo caminho de antes. Eu estava com medo. E inseguro. Fico louco de ouvir aquele moço sentado bem embaixo da minha mesa e que vive o tempo todo repetindo aquelas mesmas palavras que eu falei e queria apagar da minha memória. Eternamente!

Que desgraça, elas ecoam como se eu estivesse dentro de uma caverna do passado, apesar de que eu estou certo de que aqui não é uma, que não passa da sala de espera de um dentista e agora eu preciso me concentrar no barulho incisivo do maquinário que me aguarda sala adentro. Preciso arrancar fora o siso que me atrapalha o amor. Meu juízo que me atrapalha, me julgo e jogo tudo, tudo contra mim. Apenas contra mim!

No Pôr-do-Sol

por ale gustavo

Milhares espectros de luz
Que me trazem saudade
Viajantes anos-luz
Devastando a cidade

A carência nascida por você
Se alastrando pelo meu corpo
O Céu se despe pr’eu ver
Roubando flagrantes olhares

Vou sentido sua timidez
Que enrubescendo nuvens
Trago a lua pra lhe esconder
E o rubor se dissolve nos ares

No Pôr-do-Sol
Onde a gente vai se encontrar
Pôr-do-Sol
A semente da cumplicidade
Pôr-do-Sol
Pensamentos pra se esbaldar
No Pôr-do-Sol
O caminho da felicidade

Meus olhares perdido no ar
No crepúsculo compenetrado
Envelhece o dia que vai
Me trazendo perdidas paisagens

Nas miragens que vem com a luz
De um tempo que nunca passou
Hoje vejo dias se esvaírem
Deixando rastros, saudades

Sob esse céu estranho
Onde as cores vão se misturar
Lembro me daquela mulher
Sonhos que deixei pra mais tarde…

No Pôr-do-Sol …

BUSCAS III

Muitas confusões na minha mente
Sentimentos confusos
Desejos confessos
Melodias com fusas
Ferramentas parafusos
Dias profusos

Que loucura
Vem e vai
Sinto e dissinto
Quero e desquero
Vejo e desvejo
Velo e desvelo

Para onde vai os sentimentos?
Cada semana passada algo novo
Alguém novo
Alguém especial
De repente
Alguém espacial
Isso mesmo, fora de órbita

Os meus desvarios me enlouquece
Os desvarios meus enlouquecem
Enlouquecidos meus desvariantes

Sinto meu coração batendo forte
Achei que era amor
Era muito pequeno, muito fugaz
Tanto ridículo quanto impossível
E eu que dava a minha vida
Mentira! Ela sim quem daria
E eu nada

Só quero gozar
Prazer, meu nome é Johanes
Quero curtir, me dê um pouco de amor
Deixa eu ficar aqui com você
Me leva junto, pra qualquer lugar

Me deixa só em qualquer ponto
Como já disse
Minha mente está confusa demais
Cansada demais
Pensante a mais
Relutantes por demais
A mais, a mais, a mais

Amai!

Vós amantes, amai, amai,
Amadores amai, amai
Desertores do amor
Amai, amantes a mais!

Nunca deixe de amar
Que seja somente amar
Amar de qualquer jeito
De qualquer formar amar

Amar,
mas minha vida está

Confusa
Profusa
Difusa
Usa

Me usa
Me usa
Me usa

BUSCAS II

Hoje eu queria deitar no colo da lua e chorar.
A lua, essa senhora velha e gorda,
Que mais parece uma avó.

Amarela como minha vó branca.
Hoje eu queria era colo de vó.

Eu diria pra todo mundo, eu não sou forte.
Sou de barro. E quando choro e amoleço, é que sou moldado.
Por isso hoje eu precisava do colo de vó pra chorar.
E me aconchegar num colo gordo, sem medo,
E me desatar o choreiro numa poça,
E me moldar ao esse colo e aos seus dedos,
Que me acariciariam o cabelo em roldanas.

Que me içavam pesado pra Lua,
Pra lá que eu ficasse leve,
Pra lá que estivesse só,
Pra lá que eu visse tudo,
A festa inteira, desde o lado obscuro
Até quando o dia clareasse.

Hoje eu queria, mesmo que um colo amarelo,
Um colo que de dia me sussurrava,
E que de noite me aquecia.
Um colo que me queria,
Um que me esperava!

HOJE ESTOU TENTANDO DESCOBRIR ONDE FOI QUE TUDO COMEÇOU

O mundo é repleto de possibilidades. Assim é a vida. A estrutura dela é um infinitude de possibilidades. Como se fosse uma complexo algoritmo de milhares de milhares de procedimentos de condição: Se. Se eu fizesse isso, se aquilo, se fosse, se não. Se eu fosse seria assim, senão assado. Senão se então, e uma gama de possibilidades impossíveis de serem descritas, por que essas pequenas escolhas incentivadas pelas nossos procedimentos condicionados, acontecem aos milhares em nossa vida, diariamente.

Rodeados de possibilidades, cada uma dessas escolhas em um ínfimo “se”, nos trouxe hoje diante do “se” que mais nos atormenta e tira o sono. Se tivesse me casado, se não, se eu estudasse mais, se eu tivesse escolhido aquele curso, se não tivesse terminado esse namoro, se decido pela minha vocação, onde eu estaria hoje?

Eu formei num curso técnico em Processamento de Dados e trabalhei um tempo como programador de computadores. Esses procedimentos de condição era o que eu mais pirava e curtia quando programava. Alguns softwares trabalham com vários procedimentos condicionais intercalados. Essa era uma das maneiras de entender o que um usuário gostaria quando fazia algum simples movimento no mouse.  Bobeiras como se direita, se esquerda, se X=123px.

Hoje eu ‘tava’ pensando na vida, quando eu programava, qualquer erro num desses procedimentos condicionais, jamais levaria os usuários aos resultados esperado. Muitas das vezes, pequenos erros de sinais ou variáveis, ou um simples erro de lógica impediria todo o projeto de funcionar corretamente. E então, era necessário voltar linhas e linhas de programa corrigindo todos os procedimentos intercalados de condição.

Não é diferente na minha vida. São várias condicionais, refletindo no meu dia-a-dia. Várias opções, possibilidades, decisões. Intervindo muitas das vezes naquilo que eu esperava do meu futuro quando então ele se torna presente. Numa programação há possibilidades de voltar e rever um procedimento e corrigi-lo. Na vida, muitas das vezes não. Mas não por isso menos importante voltar e rever nossos caminhos e nossas decisões. Algumas vezes não vai dar para voltar e refazer o procedimento, mas a partir dali perceber muitas outras possibilidades que no momento da escolha pareciam impossíveis de se apreender. Noutras vezes, seremos hábeis de voltar e recomeçar, e faze de novo, diferentemente.

É o que penso de um conselho dado na bíblia, sobre lembrar de onde se caiu e se arrepender e voltar a fazer as coisas do início. Outras opções, outras possibilidades. Hoje é aqui que estou eu, tentando lembrar onde foi o começo de tudo e quando foi que tudo mudou. Se houve procedimento de condição, então em algum momento algo mudou daquilo que foi proposto primeiro, então devo voltar onde tudo mudou e retomar às primeiras proposições. Senão, tudo deve estar na mais perfeita coerência, do jeito que Deus sempre quis.

Abraços!